Treino de Força na preservação e melhoria da saúde do corpo-humano
“Acreditamos no Treino de Força como o maior coadjuvante à preservação e melhoria da saúde do Corpo-Humano.”
Inicio esta reflexão com um pressuposto defendido pela EXS Exercise School. No entanto, é importante salientar que carece de algum contexto. Esperemos que o leitor perceba que esta afirmação não se trata de uma mera crença enraizada por nós, existe por detrás lógica e um sólido fundamento científico. Contudo, é compreensível que provoque alguns questionamentos, no qual pretenderei responder neste breve texto. Porquê o treino de força como coadjuvante da preservação e melhoria da saúde do corpo-humano? Como o treino de força poderá preservar e melhorar a saúde?
Creio que antes de dar estas respostas, é fundamental estar claro para o leitor aquilo que nós (EXS) entendemos como Treino de Força. Deste modo, para que possamos construir melhor entendimento, peço que embarque comigo nesta reflexão e leia atentamente aquilo que tenho para partilhar.
-O que é Treino de Força?
Independentemente das diversidades que poderá existir em termos de ideologias e processos, há algo que é uma realidade… vivemos no planeta terra. Como tal, este planeta está sujeito a leis universais, as leis da física. Assim sendo, a física está sempre presente e o treino não é exceção. Existe uma constante interação entre a física e o corpo, podendo esta ser manipulada pelo treinador quando prescreve e monitoriza exercício. Existem forças externas aplicadas ao corpo, e este irá responder com forças internas, e isto é transversal a qualquer modalidade de Fitness. Atente nos seguintes exemplos:
Yoga e Pilates
“Modalidades como o Pilates ou Yoga, radicam a sua intervenção na dimensão da extensibilidade, da postura ou da cultura que as define: o Independentemente de tais pressupostos, existem, por norma, forças a serem criadas, ou por bandas, ou por molas no caso da máquina Reformer©, ou pelo peso dos segmentos, ou pela tensão viscoelástica proveniente dos tecidos que estão a ser deformados no lado do “alongamento”. Toda a resposta interna está a ser condicionada pela resistência externa criada pelos elementos referidos. O fator de adaptação é a resposta (dos tecidos musculares sob controlo sistema nervos central) à duração, frequência e intensidade de exposição ao estímulo – Resistência”*
Crossfit e Treino Funcional
“Independentemente de tais pressupostos, existem, por norma, forças a serem criadas, ou por bandas, ou pelas forças reativas no solo, ou pelo peso dos segmentos, ou pela tensão das fitas no TRX©, ou pela velocidade imprimida à KB© que cria um vetor de resistência oposto e proporcional à magnitude da aceleração. Toda a resposta interna está a ser condicionada pela resistência externa criada pelos elementos referidos. O fator de adaptação é a resposta (dos tecidos musculares sob controlo sistema nervos central) à duração, frequência e intensidade de exposição ao estímulo – Resistência.”*
Treino de Mobilidade
“Independentemente de tais pressupostos, existem, por norma, forças a serem criadas, seja pelo peso dos segmentos ou pela tensão viscoelástica proveniente dos tecidos que estão a ser deformados no lado do “alongamento”. Toda a resposta interna está a ser condicionada pela resistência externa criada pelos elementos referidos. O fator de adaptação é a resposta (dos tecidos musculares sob controlo sistema nervos central) à duração, frequência e intensidade de exposição ao estímulo – Resistência”*
Treino de Cardio
“Independentemente de tais pressupostos, existem, por norma, forças a serem criadas, ou pelas forças reativas no solo, ou pelo peso dos segmentos, ou pelos próprios equipamentos (bicicleta, elíptica). Toda a resposta interna está a ser condicionada pela resistência externa criada pelos elementos referidos. O fator de adaptação é a resposta (dos tecidos musculares sob controlo sistema nervos central) à duração, frequência e intensidade de exposição ao estímulo – Resistência”*
*(Excertos retirados do Documento “ESPECIFICIDADE – Desenvolvimento de um processo mental para uma melhor aplicabilidade e compreensão.” por Nuno Pinho)
Como poderá observar os enunciados anteriormente, qualquer treino envolve forças, sem forças não há treino e são essas forças que em contacto com o corpo humano irão criar resistência, isto é, estímulo, potenciador de adaptações fisiológicas. Este jogo de forças ocorre em qualquer modalidade, metodologia ou método de treino. Repare que até no treino cardiovascular, apesar do objetivo principal não ser a estimulação muscular, como por exemplo na musculação, continua a existir este jogo, ou seja, tudo é treino de força. Por isso quando falamos em treino de força teremos que englobar tudo o que é exercício físico.
“Não é a metodologia que dita a adaptação, mas sim a resposta do corpo ao
verdadeiro estímulo – a resistência – que muitas vezes tem o nome de crossfit,
velocity based training, treino funcional ou pilates e alongamento”
NUNO PINHO
-Porquê o Treino de Força?
A evidência científica que demostra os inúmeros benefícios do treino de força para a saúde é cada vez mais robusta. Assim, penso que reste poucas dúvidas relativamente à importância do Treino de Força em vários parâmetros de saúde e funcionalidade, nomeadamente, na melhoria da mobilidade, no aumento da capacidade cardiovascular; no combate à diabetes tipo II; na redução de níveis de colesterol e hipertensão arterial; na melhoria da qualidade de sono, no combate à depressão, através da diminuição dos níveis de ansiedade e stress, doença mental que afeta imensos portugueses; na prevenção de patologias músculo-esqueléticas (e.g sarcopenia); na prevenção e combate de doenças cardiovasculares e oncológicas, que são as que mais matam em Portugal. (1-10) No entanto, é preciso ter em consideração alguns fatores na hora do treino, nem tudo poderá ser benéfico.
-Como?
Temos uma perspectiva de treino de “no brain no gain”, por isso acreditamos que o caminho para a preservação e melhoria da saúde do corpo-humano passe por um treino inteligente, isto é, um treino eficiente, que promova adaptações fisiológicas positivas com o menor custo possível, preservando a integridade do corpo-humano. Para isto, o treino terá que acima de tudo, respeitar as possibilidades do indivíduo, a sua tolerância sistémica e local e ser devidamente efetivo em elevar as capacidades do individuo. Seguindo as evidências científicas atuais, defendemos que a combinação de exercício de cariz aeróbio, utilizando por exemplo equipamentos de “cardio”, com o foco na preservação e melhoria do sistema cardiovascular com um exercício com foco na estimulação muscular para preservar e melhorar o sistema neuro-musculo-articular será o ideal, para conseguirmos o melhor dos dois mundos.
Em jeito de conclusão, cabe a mim reforçar a complexidade do corpo humano e que saúde não depende só de treino físico. Estamos perfeitamente conscientes que fatores como nutrição, sono, gestão de stress, por exemplo, são extremamente importantes, no entanto, como profissionais de exercício físico a nossa área de atuação é o treino, e no nosso modus operandi a usurpação de funções não é de todo aceitável. Querermos ser promotores de um caminho de interdisciplinaridade entre as diversas áreas de saúde. A ética e a humildade no reconhecimento dos limites e fronteiras de conhecimento e atuação, a par da paixão, dedicação e rigor são elementos cruciais para elevar a credibilidade da classe profissional. O nosso foco deverá estar em educar as pessoas e fazer com que estas adotem práticas físicas seguras, eficientes e sustentáveis, para que a consistência do treino permita resultados duradouros e tenha realmente um impacto positivo na sociedade como coadjuvante na preservação e melhoria da saúde do corpo-humano.
Referências:
1- Kell, R. T., Bell, G., & Quinney, A. (2001). Musculoskeletal fitness, health outcomes and quality of life. Sports Medicine, 31(12), 863-873.
2- Steele, J., et. al. A higher effort-based paradigm in physical activity and exercise for public health: making the case for a greater emphasis on resistance training. (2017)
3- Westcott, W. L. (2012). Resistance training is medicine: effects of strength training on
health. Current sports medicine reports, 11(4), 209-216.
4- Williams, M. A., & Stewart, K. J. (2009). Impact of strength and resistance training on cardiovascular disease risk factors and outcomes in older adults. Clinics in geriatric medicine, 25(4), 703-714.
5- Strasser, B., Steindorf, K., Wiskemann, J., & Ulrich, C. M. (2013). Impact of resistance training in cancer survivors: a meta-analysis. Medicine & Science in Sports & Exercise, 45(11), 2080-2090.
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7- https://www.dgs.pt/portal-da-estatistica-da-saude/diretorio-de-informacao/diretoriode-informacao/por-anos-dos-dados-842723pdf.aspx?v=%3d%3dDwAAAB%2bLCAAAAAAABAArySzItzVUy81MsTU1MDAFAHzFEfkP AAAA
8- Nuzzo, J. L. (2020). The case for retiring flexibility as a major component of physical fitness. Sports Medicine, 50(5), 853-870. 18- Gordon, B. R., McDowell, C. P., Hallgren, M., Meyer, J. D., Lyons, M., & Herring, M. P. (2018).
9-Association of efficacy of resistance exercise training with depressive symptoms: meta-analysis and meta-regression analysis of randomized clinical trials. Jama Psychiatry, 75(6), 566-576. 19- Kovacevic, A., Mavros, Y., Heisz, J. J., & Singh, M. A. F. (2018).
10- The effect of resistance exercise on sleep: a systematic review of randomized controlled trials. Sleep medicine reviews, 39, 52-68