Ameaças e oportunidades em tempo de crise: o plano extraordinário de formação por José Briosa e Gala
Imaginem este cenário, um mundo cheio de superficialidade e de profissionais mergulhados em apatia. As pessoas que deviam estar a trabalhar concentradas, a deixar os seus clientes encantados, a desenvolver diariamente as suas capacidades, e a disponibilizar um valor elevado às suas organizações, para que tanto o trabalhador como a empresa alcançassem o sucesso, estão antes submersas em entretenimento, a ver vídeos ridículos, a comprar coisas on-line de que não precisam ou a navegar nas cronologias das suas redes sociais.
Eis que surge uma pandemia global de um vírus chamado Sars-COV2 e que provoca temporariamente uma crise de saúde pública global, a qual leva as autoridades e governos a reagir com a aprovação de medidas excecionais restritivas de direitos e liberdades fundamentais, incluindo a declarar o isolamento social obrigatório, com o propósito de lutar contra os efeitos desse vírus na saúde das pessoas e pela garantia de sustentabilidade dos sistemas de saúde.
“O plano extraordinário de formação, uma medida excecional e temporária de apoio às empresas e à qualificação dos trabalhadores … “
Em consequência, surgem os efeitos excecionais, também, na organização do trabalho e na atividade empresarial. O teletrabalho passa a ser uma necessidade, a redução do período normal de trabalho ou a suspensão do contrato de trabalho uma solução, acelera a transformação digital, e as empresas declaram crise empresarial com grandes quebras de faturação e produtividade, efeitos estes de duração indeterminada e que muitos analistas económicos apontam já para o seu agravamento, e para uma longa recessão económica.
Os governos apressam-se a tomar medidas excecionais e temporárias, algumas de apoio às empresas para que mantenham os postos de trabalho e outras de financiamento à economia.
Estes cenários conjugaram-se todos ao mesmo tempo e são hoje a realidade.
Estamos perante muitos e excecionais desafios, e cada um de nós tem em si a capacidade de transformar esses desafios em oportunidades. É preciso termos a consciência desta nossa capacidade de elevar os desafios a oportunidades. Vamos começar por calibrar a nossa atenção para o primeiro passo do crescimento. A aprendizagem.
“Estamos perante muitos e excecionais desafios, e cada um de nós tem em si a capacidade de transformar esses desafios em oportunidades…”
É ao nível da aprendizagem que surge o plano extraordinário de formação, uma medida excecional e temporária de apoio às empresas e à qualificação dos trabalhadores, neste contexto de crise, que é uma oportunidade de crescimento para empresas e trabalhadores que está pouco divulgada. Esta medida abrange as empresas que não recorreram ao benefício do chamado layoff simplificado, isto é, a redução do período normal de trabalho ou suspensão do contrato de trabalho, e consiste num apoio financeiro a atribuir por cada trabalhador abrangido por esse plano extraordinário de formação, até ao limite de 50% da retribuição ilíquida, com o limite máximo da RMMG (635€). O apoio financeiro é suportado pelo IEFP e é concedido em função das horas de formação frequentadas pelo trabalhador até ao limite de 50% do seu período normal de trabalho.
As empresas que aderirem ao plano extraordinário de formação também ficam isentas temporariamente do pagamento de contribuições para a segurança social, incluindo dos membros dos órgãos estatutários, e podem pedir também o apoio financeiro extraordinário para apoio à normalização da atividade da empresa correspondente a um RMMG por cada trabalhador abrangido no plano. Esta é uma medida que tem em vista a manutenção dos respetivos postos de trabalho e o reforço das competências dos seus trabalhadores, de forma a atuar preventivamente sobre o desemprego, apoiando a formação dos trabalhadores sem ocupação em atividades produtivas por períodos consideráveis, quando vinculados a empresas cuja atividade tenha sido gravemente afetada pelo COVID-19.
Para os trabalhadores colocados em layoff, aqueles que viram uma redução efetiva da prestação do seu trabalho em qualquer das modalidades já referidas, também há uma oportunidade que merece mais atenção e que consiste no direito a exercer outra atividade remunerada, desde que tal não constitua um incumprimento de qualquer obrigação contratual ou ética do trabalhador, nomeadamente, de não concorrência.
A realidade que estamos a viver é provavelmente a maior crise da nossa geração, conforme afirma Yuval Noah Harari, autor de, entre outros, o livro “Sapiens, História Breve da Humanidade” e do artigo excecional publicado pelo Financial Times sobre o mundo após o coronavírus. O autor citado refere ainda que, neste tempo de crise, estamos perante duas decisões particularmente importantes:
- A primeira é escolher entre o totalitarismo da vigilância e o desenvolvimento do cidadão.
- A segunda é escolher entre o isolamento nacionalista e a solidariedade global.
Serão as nossas decisões que irão transformar o mundo após esta crise.
Serão as nossas decisões que irão transformar o mundo após esta crise. O foco da nossa atenção deve estar naquilo que conseguimos controlar, que nos faz crescer, e estar preparados para dar uma resposta de excelência perante qualquer desafio. Gosto de pensar na metáfora de retirar os caroços ao limão para ilustrar aquela pessoa que conscientemente está focada em todos os detalhes para atingir um resultado de excelência.
O investimento em formação e networking parecem-me ser escolhas certas que devemos abraçar para sairmos desta crise com mais conhecimento e com uma rede de maior valor criada por pessoas conscientes.
Vamos retirar os caroços do limão e plantar um lindo limoeiro com os caroços guardados. É possível, ninguém nos pode impedir de o fazer. Como diz o meu amigo Hugo, a quem devo agradecer a visão e a oportunidade de escrever este artigo, JUNTOS SOMOS MAIS FORTES!